"Comecei o dia furiosa comigo porque não fui à
academia. Era para eu ter acordado mais cedo, enfiado aquele legging e corrido
5km. Não consegui, não fiz nada disso. Enfiei uma fatia de pão na torradeira e
me culpei por ter colocado um pouco de manteiga ao invés de uma ricota magra
sem sal.
Olhei para a minha agenda e direcionei o olhar
diretamente para todas as pendências. Documentos que não enviei, faturas que
não emiti, contratos que não revisei, e-mails que não respondi, ligações que
não retornei. Não fazia nem meia hora que eu estava acordada e eu já era uma
lamentável devedora de mim mesma.
Entrei no banho com a cabeça acelerada e uma dose semi
invisível de raiva de mim mesma porque eu nunca consigo cumprir minhas metas
intermináveis. Parecia que eu não havia feito nada na véspera, quando, na
verdade, fiz muito. Percebi que havia algo de muito errado nisso e disparei
mensagens nos meus grupos de amigos perguntando se eles sentiam a mesma coisa.
As respostas foram unânimes: todos se sentem
absolutamente devedores de si mesmos. Entramos numa lógica cruel que funciona
mais ou menos assim: praticamente não importa o que a gente fez de bom, só
importa aquilo que ficou faltando. Tudo o que ficou faltando, grita dentro da
nossa cabeça como se estivesse escrito em caixa alta.
Hoje eu trabalhei muito. MAS NÃO FUI À ACADEMIA. Hoje fui
à academia. MAS COMI AQUELAS PORCARIAS NO ALMOÇO. Hoje eu comi bem. MAS NÃO
ENTREGUEI O RELATÓRIO. Hoje eu terminei o relatório. MAS NÃO LIGUEI PARA A
MINHA AVÓ. Hoje eu falei com a minha avó. MAS NÃO RESOLVI AQUELAS COISAS DO
BANCO. Hoje eu fui ao banco. MAS ACABEI TRABALHANDO POUCO. Hoje trabalhei
muito. MAS DORMI POUCO. Hoje dormi bem. MAS ACORDEI TARDE.
Começa a dar uma certa falta de ar, uma angústia que se
instala entre o estômago e garganta e que nos diz que somos pouco, que fazemos
pouco, que concretizamos pouco. É como se nós fossemos chefes de nós mesmos- e
aqueles chefes da pior espécie, que não reconhecem os trabalhos bem feitos e as
tarefas finalizadas, mas apenas o que ficou pendente. Um chefe que berra
palavras de frustração na nossa orelha e que em nada contribui para
melhorarmos.
Temos muita coisa para fazer, não tem jeito. E talvez o
pior não seja o fato de termos tudo isso, mas sim o fato de lidarmos tão mal
com a nossa rotina e com a finitude da nossa capacidade. Não me parece que a
solução seja sempre a de nos esquivarmos das tarefas (embora às vezes seja
necessário). O que me parece necessário é pararmos de sentir tanta culpa. Não
somos máquinas e nunca funcionaremos com perfeição.
Precisamos parar de nos comparar com a amiga que posta
foto na academia às 6 da manhã. Com o primo que milagrosamente consegue ser o
filho perfeito. Com a vizinha que tem uma casa impecável. Com o colega que
nunca sai da linha na alimentação. Com aquele casal de pais que parece nunca
errar. Com a amiga está sempre vestida como capa de revista.
Acho que a gente só precisa tentar ser a nossa melhor
versão. E a nossa melhor versão não vive nesses picos de stress, nem com essa
angústia instalada. Temos que ser mais compreensivos com as nossas pequenas
grandes falhas. Deveríamos reservar a caixa alta para tudo o que foi feito e
não para o que ficou faltando. Porque não parece justo que sejamos justamente
nós aqueles que são mais cruéis e mais duros conosco."
Texto por Ruth Manus, 0 Estadão.
Fantástica leitura! Compartilho e sugiro uma reflexão: Será que não estamos
nos deixando sufocar pela rotina, modo automático >> ON, quando sem
querer atropelamos o primeiro momento do dia em intimidade com DEUS?
Quando foi a última vez que acordamos e em pensamento
dissemos: “Bom dia Espírito Santo! Guia-me!”? Estando realmente dispostos a
ouvir sua voz?
Penso que perdemos a oportunidade de sermos GUIADOS pelo Senhor em
nossos afazeres e compromissos diários, apenas pela falta de sensibilidade
gerada ao nos conectarmos à ELE.
A minha oração hoje é que Ele esteja sempre perto, e eu,
atenta aos seus comandos. Que eu descubra minha melhor versão livre de culpa e enraizada n'Ele... Desejo o mesmo à você!
Com carinho, Camila